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segunda-feira, 27 de setembro de 2010

E que tudo pareça um acidente: Incêndio no Real Parque


          O esquema é semelhante á máfia italiana. Tudo tem que aparentar ser um simples acidente. Qualquer semelhança ao ocorrido no início do ano na região do Jd. Pantanal tem que mostrar-se como uma mera coincidência. Cada região com sua peculiaridade, cada qual com o seu tratamento diferenciado. No Paraisópolis não adianta fechar as comportas ou a barragem da Usina da Traição, pois os barracos não estão em uma baixada e o resultado seria o transtorno do moradores do Morumbi e Panamby que passam com seus respectivos carros pela Marginal Pinheiros. O jeito foi optar por outro elemento fundamental da natureza. O fogo. Na manhã do dia 24 de setembro, parte dos barracos da favela do Real Parque, zona sul de São Paulo, foram incendiados. Não por um, mas por três focos de incêndio em pontos diferentes. Um deles, segundo moradores, foi próximo aos eucaliptos que ficam na parte de cima do morro.

           Incêndio criminoso? Como provar se a nossa força pública eficientemente limpou o local do atentado antes da chegada da perícia. O mais curioso é que na madrugada de quinta para sexta parte da favela estava sem energia elétrica. Um dos focos do incêndio começou por volta das 4:30 horas e outro lá pelas 8 ou 9 horas da manhã. O resultado: parte do tumor que assombra a elite paulistana moradora da nobre região do Morumbi e imediações desapareceu. Para garantir que os moradores não retomem o terreno da EMAE (Empresa Metropolitana de Águas e Energia S.A.), foram feitas bases provisórias por onde circulam a Guarda Civil Metropolitana, Guarda Florestal e alguns homens do Exército. Parte deste mesmo terreno já tinha sido desocupado por uma ação de despejo em dezembro de 2007, momento em que a própria empresa declarou não ter grandes planos de construção para área por ser inapropriado devido seu aclive. A ação desta vez teve o papel somente de retirar da área famílias que moravam em grande parte em abrigos provisórios, próximos ao CDHU. Muitos dos que alí estavam já vinham de outras áreas evacuadas. O resultado: cerca de 350 família, quase 1.200 pessoas, ocupam garagens e casas de parentes próximos. Perderam quase tudo.

           Mas lembrem-se, tudo isto tem que ser avaliado de maneira desarticulada. O incêndio na favela do Jaguaré, os despejos na região da antiga Avenida Águas Espraiada, as enchentes e remoções na região do Jd. Pantanal, os ocorridos na região do Parque Residencial Cocaia, Cantinho do Céu, Grajaú, não passam de fatos isolados. Para qualquer um dos casos, o padrão de desculpas já é bem conhecido: moradias em área de risco e incêndio provocados por ligações clandestinas de energia. O mais incrível é que estes acidentes ocorrem de preferência em áreas de intensa especulação imobiliária e/ou espaços no qual há uma opção clara do discurso de preservação ambiental em detrimento da população que já está na situação de excedente do excedente do exército de reserva de mão-de-obra. E a tendência é que estes acidentes aumentem de modo exponencial até 2012, 2014. A cidade precisa mudar rapidamente, mas investimentos na área da moradia parecem estar definitivamente fora dos planos da Secretaria de Habitação que recusa-se insistentemente a ouvir parte considerável dos movimentos que lutam por moradia.
         Portanto, desarticulados, continuaremos a ouvir de maneira solta e desconexa as mesmas notícias.

TEXTO DIRECIONADO PELA ARTICULAÇÃO DO COLETIVO FAVELA ATITUDE

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