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quinta-feira, 19 de maio de 2011

A TV está desafiando a crítica...



Quando a gente acha que já viu tudo nessa vida aí é que descobrimos que ainda há muito por vir, por ver... Ainda bem né?!
Hoje a Televisão brasileira vem passando por reformas desafiadoras que colocam a velha crítica no bolso, deixando em nossas cabeças uma nova pergunta: -O que queriamos afinal?
Agora mais do que nunca está difícil dizer que negro só faz papel de empregado ou bandido em novela, Taís Araujo e Lázaro Ramos podem comprovar. Os personagens estão mais complexos, nem sempre o bonzinho é bonzinho até o fim e quase sempre o vilão é humanizado por histórias que o colocam também no papel de vítima de um contexto social e familiar maior, pra se ter idéia eles nem estão mais morrendo no final. Homossexuais estão ganhando papeis centrais nas tramas e se mostram cada vez menos vulgares e mais inteligentes. Até beijo homossexual tem rolado, e não é selinho não.
Luciana Vendramini com todos os problemas de saúde que teve, TOC, depressão, anemia, Paulo Ricardo (ops, brincadeirinha) e uma sucessão de polêmicas, emergiu novamente na mídia com o primeiro beijo entre duas pessoas do mesmo sexo da televisão brasileira. Numa novela que já é polêmica na sintese, já que fala de um tema delicadíssimo para a mídia nacional "a ditadura".
Até as propagandas mudaram, imagine que a coca-cola está falando contra as guerras e se colocando ao lado dos bons, que segundo a mesma, são a maioria. O itaú faz comerciais que mais parecem teses de filosofia, ainda que a figura dos banqueiros esteja pra lá de queimada. A atual novela da globo por exemplo "insensato coração", tem como vilão um banqueiro, que é capaz de matar a própria mulher para garantir as maracutaias em dia. Me pergunto: E agora como criticar a TV nesse contexto?
Ela está exorcisando seus demônios, assimilou todos os discurssos e fez seu caldo grosso pra servir à todos. Os movimentos sociais vão falar de que agora?
Sei lá, talvez a questão esteja bem aí, deixar os movimentos sem ter o que falar. Vejo que boa parte do movimento negro ficou feliz em ver o Lázaro Ramos como galã, assim como festejou Obama na dirigência da Casa Branca. Mas as coisas continuam da mesma forma. O galã negro em questão é tão fútil e mesquinho como qualquer outro playboy branco. E o Obama se mostra cada vez mais a favor das guerras e da supremacia norte americana. Falar dos valores da cultura negra eu não vejo, as cotas então nem devem entrar na pauta.
Tudo tem um por que nessa enxurrada de bom samaritanismo. Estão apenas se adequando ao novo mercado. A televisão como qualquer outra ferramenta do capitalismo se move conforme a dança, é especialista nisso, históricamente vem dando exemplos nesse sentido. Na época em que era bonito ser rebelde ela lançou a série "Anos dourados", quando a reforma agrária estava fortemente em questão ela colocou no ar a novela "O rei do gado", se é preciso falar de preconceito, de política, de relação e até mesmo de favela ela sempre tem um produto audiovisual que cai como uma luva na consciênciua coletiva e assim apaziguados "venceremos" ou consumiremos, enfim. Segundo o IBGE, 10% da população brasileira é homossexual. Isso corresponde à cerca de 18 milhões de habitantes, que gastam 30% a mais que os heterossexuais, imagine por que os homossexuais tem ganhado tanto espaço na mídia, será que por conta de um propósito social humanizador? Por que tem direito a voz como todas os outros setores sociais? Não é necessário responder. Reconheço, foi um grande passo a ser dado pela teledramaturgia nacional, mas o fato é que sendo duas mulheres eles ainda alimentam o fetiche masculino, pensem se fossem dois homens como seria? Se liga no comentário que tinha anexo à uma materia sobre a questão no site da Yahoo:

Camila Miranda ter 17 de Mai de 2011 15:09
Deus fez o homem para a mulher,e mulher para o homem,por isso os orgaos sexuais sao diferentes,os pensamentos,as astitudes,por isso nao se da para gerar um filho. Homoxealismo é promiscuo,não é o que Deus quer para nós. Acordem,é o fim dos tempos...

A questão que deve ficar clara é que tudo que puder se tonar meio para vender produtos e serviços é bem vindo à TV, por isso ela não regeita ninguém, é claro que qualquer um que queira estar junto tem de jogar com suas regras, mas isso é assim em qualquer outro grupo social, mesmo dentre os Marxistas ortodoxos.
Nem as crianças escapam dessa lógica, o Brasil pra se ter idéia, é o país onde as crianças mais vêem TV no mundo, cerca de 4 horas e meia por dia, imagina quanto se pode vender com olhares tão frágeis aos apelos de consumo? Pra TV atual, foda-se quem você é e o que suas idéias estão propagando, fodam-se as consequências, o que interessa é o ibope e o dinheiro que ele carrega.
Mas existe uma boa lição que pode ser tirada da lógica televisiva, eles são ótimos articuladores, trazem seus inimigos sempre bem juntinhos de si. Coisa que os movimentos populares não souberam fazer. Sempre na lógica do rompimento somos os primeiros a excluir do coletivo aqueles que se mostram alheios as teorias de novo mundo das escolas sociais e com isso estamos sempre a margem de nós mesmos. Não convidados o inimigo a se transformar conosco, pelo contrário ou caímos no jogo deles ou nos apartamos eternamente, e assim pouco mudamos a realidade, muitos pobres ainda acham que comunista come criancinha e meu maior medo é que a novela desmistifique isso.
Tentando responder a pergunta inicial, vejo que o que queríamos com as críticas sitadas era apenas ser incluídos, se ver na TV, sentir-se importantes. Uma necessidade primária e que já devia ter sido superada, mas tudo bem, se é assim por que não fazemos nós mesmos nossos canais? A internet possibilita isso hoje, projetores são acessiveis, e a rua continua sendo pública. Mas contudo sabe-se que pra que haja mudanças efetivas de modelo social precisamos que alguns pensamentos ganhem maior amplitude e nisso a Tv ainda é a única saída.
Nessa linha, há muito venho pensando em uma terminologia cunhada em uma das reuniões do coletivo de vídeo popular pelo Flávio do Cinescadão, "A Reforma da Tela". Acredito que esse é o caminho, ocupar o latifúndio audiovisual das coorporações televisivas e pautar o novo, pautar conteúdos e abordagens diferentes que por sua vez possam ser mais que meros pontos de divulgação de bens de consumo. Estar de fato inseridos nas discussões que criticam as leis que permitem que tanto tempo da programação seja dedicado a lixo mercadológico, pautar leis que restrinjam conteúdos inadequados para crianças e materiais preconceituosos em geral, sem a ipocrisia dos velhos marketeiros que defendem a pseudo-liberdade de expressão, leis que ponham em cheque a validade das concessões públicas (que de públicas num tem nada). Sempre com muito cuidado, sabe-se que esse é um terreno de fácil cooptação, logo devemos construir essa alternativa na malandragem do angoleiro capoeirista e principalmente com ideais bem claros e muita paciência.
Porém enquanto isso não se faz possível fico com a reflexão da minha companheira que me disse a seguinte frase outro dia: "Quero mais é que a televisão tenha muita porcaria, assim quem sabe o povo não se enche desliga a TV e vai mudar suas vidas na prática!"

Por Daniel FagundeS.





PS: Em breve o programa de web TV do NCA "Ocupação"

Um comentário:

  1. muito boa reflexão. A TV está a ter consciência social ao incutir nos seus conteudos o reflexo da sociedade tal como ela é, e falo da ficção. Porque a telerealidade, real shows, etc... eu creio que criam algo de facto discutivel. Duas personagens de ficção serem homosexuais eu creio que não á discussão.

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