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quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Produzimos imagens, mas e o Imaginário?!

Gostaria de produzir a imagem-enigma, que como estética tivesse a possibilidade de produzir o questionamento, o pensamento como princípio primeiro... Não necessito de auto-representação ou representação de moradores de quebrada, aliás, sigo na contramão do discurso de “nossas” ONGS atuais, que são um tanto quanto empreendedoras, que batem na tecla da necessidade dos periféricos falarem sobre si; de que esta fala (ou produção de imagens) próxima da realidade que se vive, tem mais autoridade de verdade da que não é; desse discurso que busca a “solução” na auto-representação, na possibilidade de fala dos excluídos, que sabemos muito bem, que não passa de produção, e de uma produção que não alça vôos para além de quem faz, pois nossa atuação fica restrita apenas enquanto “atuação visual”. Estamos entulhados no discurso do “todo mundo pode produzir, hó que lindo!”, mas também entendo que esse discurso está muito mais próximo da lógica que permeia a indústria (cultural, consumista, televisiva, tecnológica...), que não só estimula o consumo, mas também a falsa idéia de que somos livres para atuações verdadeiras nesta sociedade, de que nossa subjetividade está garantida e devemos mostrá-las ao mundo... Vivemos na sociedade da imagem, até podemos produzi-la, mas qual é a nossa real capacidade de decifrá-la? De lê-la? Entendemos sua gramática, sua lógica, sua técnica? Sabemos escrevê-la, ou somos uma espécie de semi-analfabetos da imagem tentando dar suas primeiras escrevinhadas com câmeras produzidas pela Sony, Panasonic, Canon, emprestadas de alguma instituição ou colaborador? Mas o que mais me incomoda, não é essa questão de sermos, ou não, semi-analfabetos na produção de imagens (porque, alias, somos em muitas outras coisas), e sim a fácil/falsa idéia de que basta termos um olhar diferenciado perante a realidade para que esta seja diferente, ou melhor, de que produzir uma imagem diferente da imagem que a “mídia elitista” produz sobre nós, é em si uma afronta e uma possível mudança no imaginário das pessoas em relação aos excluídos, que somos nós: periféricos, pobres, homossexuais, sem acesso, negros, coitadinhos, “meus meninos”, favelados, mulheres, mais um entre a massa, apenas um número...

Gostaria de produzir a imagem-ação, que exigisse de cada um, não a identificação direta com a imagem produzida, mas a busca do que lhes constituem enquanto pessoa, imagem que se desse para além de representar o que as pessoas são, querem, ou podem ser, como faz a maior parte da produção dos nossos dias... Nós grupos, coletivos e realizadores do chamado audiovisual-periférico/independente/popular, que tentamos fugir da lógica mercadológica, do discurso fácil/falso que nos rodeia, temos a responsabilidade (e de certa forma até a queremos), da desmistificação da produção audiovisual (acho que é o que está mais ao nosso alcance), somos um povo que ainda se encanta com a novela das oito; que “perde” tempo em discuções sobre um seqüestro televisionado por três ou quatro dias; que pouco sabe, de fato, sobre nossa economia atual porque ela não é televisionada; que tem prazer em assistir a Xuxa, o Gugu, o Faustão (representantes de nosso divertimento)... Vejo a possibilidade de desmistificação quando subo becos apertados, em alguns dos morros da zona norte e me deparo, em um pequeno espaço ao ar livre, com uma projeção de vídeos produzidos fora da lógica comercial, em um domingo para cerca de umas vinte crianças (estou citando em específico o trabalho do Cinescadão), que poderiam estar muito bem trancafiados em casa acompanhados da TV; vejo a possibilidade quando sei que são diversas as quebradas que realizão atividades parecidas (CineBecos, Filmagens Periféricas, Nossa Tela, Brigada de Audiovisual da Via Campesina...), mas também sei e vejo que ainda não passa de possibilidade... Produzimos imagens, correto! Produzimos o imaginário? Tenho mil ressalvas em relação á isso. Ainda somos permeados e atravessados pela lógica do capital. Por quanto tempo resistiremos à falta de dinheiro? Por quanto tempo ainda conseguiremos trabalhar e realizar nossas atividades?

Gostaria de produzir a imagem-fragmento, que longe de produzir a verdade, produza dúvidas, questionamentos, que reclame de cada individuo sua interpretação do “mundo”... Na verdade, não tenho como maior necessidade produzir vídeos, participar de festivais e ser premiado, não necessito e nem faço questão dessa legitimação, aliás, acho que a maioria dos processos que englobam o audiovisual é espetacular; tenho sim, como maior necessidade as atividades que se colocam fora da produção industrial/mercadológica/comercial, e vejo no vídeo a possibilidade de se englobar a tais atividades, como parte do que pode possibilitar uma mudança (por exemplo: organizações sociais; coletivos com propósitos políticos atuantes em comunidades; em conjunto de situações emergentes advindas da realidade e que se dê a partir dela, não enquanto sua representação...). Nossa produção de imagens deveria resgatar nosso imaginário corrompido, nosso passado destroçado, nossas linguagens esquecidas, a nós mesmos... Por esses dias estava pensando comigo mesmo e me questionei sobre qual é a imagem que tenho da periferia, tentando me desvencilhar das imagens corriqueiras (produzidas) de miséria estrema, de armas e drogas, consegui visualizar duas: uma era dois velinhos (um homem e uma mulher), de pele escura, cabelos brancos, cheios de rugas, sentados num beco em um banquinho, rodeados de algumas crianças, contando estórias antigas; a outra era a imagem de tratores empurrando seres humanos para fora de um “centro” (que para mim não significa um centro geográfico, mais econômico e político/ideológico) em conjunto da frase “de que o que está fora do ‘centro’ é descartável”... Quero produzir imagens não para me englobar, não para ser incluído no mercado de entretenimento, mas para ser parte constitutiva do que pauta a necessidade de mudança...


Fernando Solidade Soares

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Um segredo no Céu da Boca



Salve rapa!!
Pois bem, nesta quarta a edições toró em parceria com a Cooperifa lança o livro
"Um segredo no Céu da Boca", livro feito pra mulecada das nossas quebradas, de linguagem e alma nossa...
Dois contos que eu escrevi compõe a escrivinhança "Terra de Ciço" e "Conto de foda",
é um livro colorido e construido na crueza periférica e na singeleza do prosar infanto-juvenil...

Espero todos por lá!!!
Levem seus pequenos pra comungar a literatura.