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quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Saiu no Balaio...

Pois bem, o seguinte texto é uma reflexão feita por mim, Daniel FagundeS. Sobre o que caracteriza esta produção videográfica de quebrada. Saiu na última edição do Balaio Cultural, informativo cultural do Grajaú. conheça mais sobre o Balaio na lista de links ao lado.

Cinema Periférico? Como assim?

Uma câmera na cabeça e uma idéia nas mãos e da janela do busão vejo imagens, imagens que diversos outros caras vêem nos diversos outros espaços desta cidade, mas não com o mesmo olhar (Sampa Mundi); Gente sorrindo, gente brigando, gente correndo, faminta, chorando, enormes prédios, barracos, viadutos, áreas improdutivas, valas comuns, bocas de lobo, bocas de fumo, esgoto a céu aberto, barricadas, casas de lona, bares, botecos, fast foods, motéis baratos, hotéis 5 estrelas...Novos olhares sobre a mesma coisa, imagens cotidianas de uma realidade comum pelo menos no que diz respeito a geopolítica (CAOS); Nosso pai, nossa mãe, nossa vida, nossa lida, nossa breja, nossa santa igreja, nosso terreiro, nosso samba, nosso Rock`n Roll...Pessoas de diversas caras, de diversos lugares, com diversos desejos, fundadas no concreto e na lama da paisagem urbana e semi rural das periferias, todos buscando algo pra afirmar sua existência, buscando um ponto comum, uma identidade na falta de identidade (Padrão); Seria o "Cinema periférico" uma necessidade de nomear mais uma manifestação artística residente no corpo cultural da cidade? Teria característica de um estilo cinematográfico? Um movimento? Político? Apolítico? Apocalíptico? Teria vindo de onde? Qual seu objetivo? Muitas destas perguntas não tem resposta, pelo menos por enquanto, mas algumas constatações podem ser feitas. O chamado "Cinema Periférico" é uma manifestação recente que eclodiu no balaio das diversas manifestações artísticas que a periferia pode expor nos últimos tempos, assim como a literatura, as artes plásticas, a dança, o teatro, e uma porrada de ações que sempre existiram, mas que agora estão tendo visibilidade por descoberta da mídia ou por reconhecimento público, sei lá. Surgiu no final dos anos 90 início de 2000 graças ao barateamento de equipamentos digitais de registro, que possibilitaram o acesso a câmeras filmadoras à classes desfavorecidas. Sua chegada, advinda de oficinas de curta duração realizadas por ONGs, incitaram nos jovens destes lugares uma necessidade dormente, a de contar histórias, com seu próprio olhar, sua própria vivência. O personagem querendo sair de seu papel começava a ganhar espaço, mesmo que mal quisto, mal visto, começava a chamar atenção. De estética pouco trabalhada, ora pela falta de conhecimento, ora pela falta de apreço, com pitadas de cinema novo e cinema marginal, mas com menos poderio político, o vídeo feito nas periferias começa a ser mais difundido. Espaço em festivais, editais para produção, parcerias e o acompanhamento das ONGs, as vezes auxiliando, as vezes explorando, mas visivelmente próximas, este audiovisual tem como característica a temática social, pouco potencializada, mas evidente. Seus realizadores, muitas vezes mais familiarizados com a linguagem televisiva, caminham num meio termo entre a reprodução e a inovação. Fenômeno fomentado pela experimentação na prática e pela pouca autocrítica. A produção tem pontos muito interessantes como, a criação coletiva e a formação de núcleos de produção independente, que aglutinaram diversos ex-educandos de projetos sociais em vídeo como meio de sobrevivência da atividade, impossibilitada de continuidade depois do fim das oficinas realizadas. Estes núcleos contabilizam aproximadamente um montante de 25 grupos espalhados pela cidade, divididos em áreas específicas (exibição, formação, produção, disseminação) e pulverizados nos quatro cantos de São Paulo. Atualmente os mesmos tentam se articular, seja para pressão na formação de políticas públicas, ou para contatos e parcerias. O futuro do audiovisual como expressão cultural das camadas populares, depende da solidificação desta produção, de sua formação e disseminação, para a identificação pública e criação de novas percepções estéticas. Uma criança começa a dar seus primeiros passos. Uma criança teimosa e surpreendente.

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