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segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Audiovisual em pról da expansão da consciência!

Como produzir audiovisual, sendo um morador de periferia sem ser alheio à todas as condições de classe implicitas nos modelos de sociedade que hoje esta posto? E que por sua vez, interferem diretamente no como fazer filme? Me pergunto pois acho muito difícil. E pergunto não como quem pensa que é necessário que se fale mais de favela. Pergunto isso como quem pensa que é necessário que se fale mais de filosofia. No sentido mais amplo da palavra, Amor ao conhecimento.

Assim sendo se fosse transferir isso para um tipo de produção que falta no panorama brasileiro, diria que faltam mais filmes que insitam a reflexão (agora é a hora em que a pessoa que lia o texto desiste de ler e pensa: Putz lá vem ele de novo com essa história de conhecimento). Digo isso pois o contexto é aterrador, um bilhão de filmes sobre conflitos amorosos adolescentes, ação com carros que voam e terror com violência gratuita oriunda da mente insana de um psicopata qualquer. Em contraponto a 3 ou 4 filmes que fazem pensar. Mas pra não divagar demais nas análises evidentes pensemos em alguns fatores históricos que nos trouxeram até aqui.

Após vinte anos de ditadura militar tivemos Fernando Collor como 1º presidente democraticamente eleito que sendo eleito em seus 2 anos iniciais de mandato fez inúmeras burradas, dentre elas o rebaixamento do ministério da cultura para uma simples secretaria, e somado a isso a extinção de vários orgãos de cultura dentre eles a Embrafilmes. O que enforcou muitos dos cineastas que dependiam destes recursos para produzir seus filmes. A boca do lixo* continuou produzindo, mas pouquíssimos viram estes filmes mesmo dentre os intelectuais da época foi pouco divulgado, apesar de hoje serem cultuados nos centros acadêmicos do Brasil e do mundo. Essa é a realidade da maioria da boa produção nacional, boicotada ou pela ditadura ou pelo processo político-econômico do país. Enquanto isso a velha cultura do trabalhador dócil foi sendo cada vez mais solidificada. Aquela idéia de que pobre tem de ser sempre pobre, Pobre não precisa de educação de qualidade, não precisa partilhar do vasto conhecimento histórico produzido pela humanidade. Pra que ter acesso à cinema nesse sentido? Pra que livro? Arte? Pra que? Pra ficar cada vez mais condenado ao trabalho braçal é que não deve ser, não é mesmo?

Compreendi isso tudo de forma muito triste, quando disse pra minha mãe que queria trabalhar com arte e ela na lata respondeu: -Isso nunca vai dar dinheiro! Pois é, mesmo aos meus pais hippies na juventude essa condição era bem objetiva. Afinal o power flower norte americano não tinha o mesmo sognificado numa quebrada de nome Piraporinha onde cresci. O que me fez entender de cedo que os filhos da patroa da minha mãe eram criados para serem meus futuros patrões, ou artistas renomados, ou filósofos, a mim cabia ser um trabalhador ordeiro e correto. Sempre pronto a bater o cartão no horário certo e ter em mente o sonho frágil de uma promoção. Foi aí que comecei a me entender como um produto histórico, foi aí que comecei a perceber quais eram os filmes que eram parte da juventude da minha vó e foi quando conheci a Vera Cruz, Oscarito, Grande Otelo, Carmem Miranda. Personagens de rostos até bem populares, mas sempre em histórias de humor e sátiras pitorescas onde apesar do contexto todos eram felizes e subalternos. Essa é a lógica que muitos ainda vivem em favelas. Educados para o trabalho e viciados pelo entretenimento fácil da Tv, onde tudo é resolvido com um beijo de happy end.

Minha vida mudou quando descobri o significado da palavra rompimento! Foi o rompimento que me permitiu me colocar no lugar de agente capaz de transformar minha vida, agente capaz de produzir arte e conhecimento ainda que oriundo de periferia. Foi o rompimento que me permitiu retomar os saberes que acreditava ter direito. Mas contudo foi também o rompimento que me colocou por vezes avesso ao pensamento subserviente da minha família. que por medo de me ver frustrado como eles não me apoiou como eu gostaria. Foi também o rompimento que me postulou como Boy dentre meus irmãos de quebrada, por defender com enfase a idéia de transformação através da obtenção de conhecimento (como se inteligência fosse coisa de rico).

Porém romper só não basta, é preciso religar-se após o desatrelamento das más influências. Acredito que uma produção audiovisual transformadora é a que nos coloca em conexão com os verdadeiros saberes aqueles advindos do coração. Aqueles que apontam o que podemos fazer de bom e que nos instigam à autonomia. Sem que seja necessário ficar escancarando a ferida e destrinchando os problemas como se não houvesse mais solução. O grande desafio da nova geração do audiovisual (ou melhor, da humanidade) é apontar caminhos, revolucionar as relações e convocar à familia pra resolução coletiva.

Num falei que era difícil?!

Alguém topa a utopia?!



Dedico esse texto à meus irmãos de caminhada: Fernando Solidade Soares, Joyce Izauri e Diego FF. Soares, que toparam essa empreitada comigo.
Não seremos os únicos!

2 comentários:

  1. MUITO BOM O TEXTO!!!!
    Boto muito fé nisso q vc escreveu, o rompimento e a não alienação diante das idéias convencionais de séculos e séculos que sempre colocaram os pobres numa condição de nunca acenderem a um patamar melhor! É isso que vai fazer (e já está fazendo) a coisa mudar pra melhor! Hoje a periferia é o CENTRO! Lugar de onde as melhores manifestações culturais e artísticas afloram e saem pra o mundo!
    É isso ae! Sigam em frente!!!

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  2. Il semble que vous soyez un expert dans ce domaine, vos remarques sont tres interessantes, merci.

    - Daniel

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