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segunda-feira, 6 de julho de 2009

Michael Jackson: Suicidado pela sociedade!

"Van Gogh não morreu devido a uma condição delirante, e sim por haver chegado a ser corporalmente o campo de ação de um problema em cujo redor se debate, desde suas origens, o espírito iníquo desta humanidade, o predomínio da carne sobre o espírito, o do corpo sobre a carne, do espírito sobre um ou sobre outra. Onde está, neste delírio, o lugar do eu humano?

"Van Gogh buscou seu espaço durante toda sua vida, com energia e determinação excepcionais. E não se suicidou em um ataque de loucura, pela angústia de não chegar a encontrá-lo, ao contrário, acabara de encontrar-se, de descobrir que era quem realmente era, quando a consciência geral da sociedade, para castiga-lo por haver se apartado dela, o suicidou."
(Van Gogh: Suicidado pela Sociedade - Antonin Artaud)


Àos 25 de junho de 2009 morre de parada cárdiaca com 50 anos uma entidade virtual de nome, Michael Jackson. Entidade essa que de tão conhecida, é mais lembrada que o nome do seu vizinho, esta entidade sem pessoa, esta virtualidade real cujo semblante mutável, exprime sua ausência de ser, cuja a distância do convivio social é a cadeia do estrelato, o retrato da sede espetacular do povo em detrimento a vida de qualquer ser humano.
Quem é pra além do nome este tal de Michael Jackson?
Respostas possíveis:

a) O rei do pop;
b) O homem do passinho mais conhecido do mundo (Moonwalk);
c) Aquele negro que virou branco por conta do "vitiligo";
d) O melhor dos irmãos do Jacksons Five;
e) Todas as alternativas acima;

Se você destacou a alternativa "e", chegou bem perto da resposta, afinal estas informações popularescas são quase tudo do que paira na mentalidade social sobre quem seria essa pessoa, inclusive na minha, mas isso até hoje quando resolvi escrever este texto. Sem muita pesquisa, pela sensibilidade resolvi pensar mais a fundo sobre essa questão. Depois da morte de Michael e devido a explosão de reportagens sobre o acontecido, percebi o quanto o cara se dedicava a dança, a música e a interpretação e o quanto era bom no que fazia, disciplina possivelmente conquistada na base da porrada na época em que integrava com sua família o Jacksons Five, pelo que vi na TV seu pai além de espanca-lo e submete-lo a rotinas exaustivas de ensaio, ainda o violentava dizendo ser ele o mais feio dos filhos, um monstro. Isso me fez pensar no quanto o palco era redentor pra ele, no quanto devia ser o palco o único lugar onde ele podia ser alguém respeitado. A energia com que cantava a força das composições, a essência negra do seu ritmo, me fez por um instante lembrar de Chucky Berry. Me fez pensar no como Chuck Berry é hoje pouco conhecido, me fez lembrar que Chuck Berry era negro e tinha o cabelo alisado, me fez lembrar que quem é conhecido como o rei do Rock é Elvis e não ele, me fez pensar que talvez só sendo branco pra ter reconhecimento no meio artistico da fama. Assim sendo me parece legitimo o fato de Michael ter se tornado branco, acho até que essa era a condição para tal. Mas é bom lembrar que mesmo que tenha ele tomado remédios pra acelerar o vitiligo, que mesmo tendo feito plástica para afinar o nariz e alisamento capilar, Michael reclamou em julho de 2002 contra as gravadoras que exploravam afro-americanos nos Estados Unidos. Ser negro estava na sua essência e algumas coisas estão tão bem enraízadas que o capitalismo não pode destruir. Sim o capitalismo, esse mesmo que produz padrões de beleza, idéia individualista de ascenção social, lucratividade à qualquer custo, coisificação do ser.
Esse sistema econômico que não permite que as crianças possam ser crianças, que espetaculariza a vida e entrega responsabilidades fora do tempo a esses que não tem suporte físico nem psicológico para tanto. Os reflexos desta condição são bem conhecidos, desestrutura psicológica e muito dinheiro, elementos que levaram Macaulay Culkin a dizer nos tablóides desesperadamente depois que policiais o enquadraram com maconha,"não se trata de um hábito. Tive que conversar com um psicólogo e fazer xixi em um vidro, para mostrar a eles que fumar maconha não é um estilo de vida para mim”. Debord dizia, que "em um mundo globalizado é impossível exilar-se", penso que sendo um estrela de cinema e Tv é ainda mais problemático, sendo ainda uma criança é inadimicível. Pensem em como devia ser a vida de Britney Spears antes de seus acessos de loucura? Pensem em como ficou sua vida depois que a mesma perdeu a guarda de seus filhos? Pensem em qual será o futuro de Maísa?
Por que será que na mídia só falam de trabalho infantil no nordeste, em canaviais ou em minas de carvão? Talvez exista uma cláusula bem pequena no canto direito de alguma página da constituição federal que permita trabalho infantil desde que o mesmo seja bem remunerado.
Não pretendo com este texto canonizar Michael Jackson ou eximi-lo de seus defeitos, mas de perto ninguém é normal, bem lembrou o poeta e o que quero evidenciar aqui é que a mídia nos faz cumplices de diversas mortes pelo mundo, inclusive a de Michael Jackson, que por sua vez mesmo na morte teve sua presença entregue ao show biz. Pra menssurarmos o quanto sua morte virou um negócio, analizemos o fato de que o site www.staplescenter.com recebeu 500 milhões de acessos em 2 horas no sorteio de ingressos para seu velório, ingressos esses gratuítos, mas que depois de concedidos eram encontrados à venda na internet por mais de R$5mil. Percebo por fim que Michael não morreu, já que nunca teve vida, concluo que o mesmo nunca desencarnou seu personagem de Triller e assim sendo permanecerá como um morto vivo do mundo midiático, seu corpo se foi, mas sua imagem e seu nome serão eternos no inconsciente coletivo da sociedade.

Um comentário:

  1. Legal esse paralelo com Van Gogh. De fato Michael Jackson foi mais um suicidado pela sociedade.

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